No tempo em que festejavam
o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos
era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha,
estava certa com uma religião qualquer...
Eu tinha a grande saúde de não
perceber coisa nenhuma,
E de ter as esperanças que os outros tinham para mim.
Quando vim a ter esperanças,
Já não sabia ter esperanças.
Heterônimos - outros nomes, "imaginários", que o autor empresta a supostos autores de certas obras suas.
Abaixo alguns trechos de Fernando Pessoa relatando o que ocorreu quando vinha a disposição para escrever algumas de suas obras - como uma obra psicografada. Me fez lembrar das histórias de Chico (como Parnásio de Além Túmulo, que psicografou poemas de vários poetas conhecidos).
... acerquei-me de uma cômodo alta e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso, e escrevi 30 e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não consegui definir...
O que consegui foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro.
Num outro momento:
...e de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis (seu outro personagem, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jato, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal, de Álvaro de Campo. (autor da poesia Aniversário))
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